Já estava ficando tarde e não apareceu nenhuma fada madrinha para
transformar uma abóbora em um carro importado, tive que estourar o cartão de
crédito comprando um vestido que sem duvidas só vou usar uma vez, passei horas
no salão e estou insatisfeita com o meu cabelo, mas as minhas unhas postiças
estão lindas, hoje é um grande dia - o dia do baile. A fada madrinha não
chegou o jeito é ir de trem para fugir do trânsito, porque hoje nada vai
estragar a chance de conhecer o meu príncipe encantado (...)
Apesar do volume de pessoas no trem, consegui chegar até o local do baile
com poucos amassados no meu vestido caríssimo, o lugar era lindo, as pessoas
também, todos elegantes e aparentemente ricos, parecia que estava dentro de um
filme, só que dessa vez a princesa sou eu.
Estava ansiosa para encontrar quem iria levar o meu sapatinho cristal em
casa, ou melhor, meu scarpin que comprei em três vezes sem juros.
Fiquei uns quarenta minutos parada em um mesmo lugar, apenas observando
até sentir alguém tocar em meus ombros, me virei e finalmente fui convidada
para dançar, a música não estava combinando com os trajes da festa, mas era um
belo sertanejo universitário com aqueles passos aéreos e vários giros que te
deixam tonto, eu estava me divertindo apenas, ele não era exatamente como eu
imaginei, era mais do que isso, sua pele morena, seu olhar cor de mel com os cílios
longos e volumosos, seu sorriso cativante, seu charme, um príncipe encantado do
século XXI.
A música ficou lenta, tocava algo que aproximava os nossos corpos, olhei no
relógio faltava quinze minutos - quinze minutos para a meia noite, ele me
beijou, foi rápido, tive que sair correndo, pois todo mundo sabe que as
estações de trem fecham a meia noite por aqui, se eu não fosse embora naquele
momento, não tinha a menor chance de voltar para casa antes das quatro da
manhã, tropecei na escada, senti meu salto sair do meu pé, voltei para buscar,
pois ainda tinha que pagar duas prestações, quando calcei percebi que caíram
metade das minhas unhas postiças, mas pelo menos consegui chegar a tempo na
estação.
Quando me dei conta de onde estava mal sabia o seu nome, ele jamais iria me
encontrar, pois nem o sapato eu deixei por lá, mas percebi que além das minhas
unhas havia caído minha pulseirinha de estimação a minha preferida, o jeito era
esperar. (...)
No outro dia pela manhã revirei as páginas do facebook, mas não encontrei
nada parecido com ele, uma pena, pois estava quase acreditando no famoso
"era uma vez..."
Ouvi a campainha tocar, abri a porta, era ele, fiquei sem reação, ele me
entregou a minha pulseira, disse que havia encontrado a minha casa, pois era
próxima da casa de sua... Namorada! Sim ele tinha uma namorada, se despediu de
mim com um beijo no rosto e lá estava ela do outro lado da rua.
Agora eu acredito em conto de fada. No
meu conto de fadas! Aonde o príncipe não chega no cavalo branco, mas vai embora
em cima de uma égua.
"Era uma vez... Fim!"